As mudanças climáticas poderão reduzir o período de cultivo do trigo em toda a região sul do Brasil, indica estudo de pesquisadores da EMBRAPA. A área potencial de semeadura também diminuiria, principalmente no estado do Paraná.
O cultivo de trigo no Brasil ocupou uma área entre 1,9 a 2,8 milhões de hectares nos últimos cinco anos, de acordo com o estudo. De 2012 a 2016, a produção média foi de 5,7 milhões de toneladas, cerca de 50% do consumo interno no país. O plantio de trigo se concentra na região sul, com 92% do total produzido, sendo os estados do Paraná e do Rio Grande do Sul os maiores produtores.
A mudança no clima provocada pelo aquecimento global pode trazer implicações para a cultura do trigo. O estudo menciona que os fatores climáticos mais importantes para o crescimento da planta são a temperatura e o fotoperíodo. O trigo depende de exposição ao frio para que ocorra indução ao florescimento. Durante o período reprodutivo, especialmente no espigamento, a planta apresenta maior vulnerabilidade a altas temperaturas.
Análises de potenciais impactos das mudanças climáticas em escala global sugerem um encurtamento do ciclo da cultura do trigo e uma diminuição da produtividade. Os pesquisadores realizaram uma avaliação específica do caso brasileiro. Eles investigaram o zoneamento agroclimático do trigo no sul do país, levando em consideração dois cenários futuros – um otimista e outro pessimista.
A partir de um modelo climático, os pesquisadores estimaram as condições climáticas da região sul para o período entre 2070 e 2100. Incluindo as características do relevo e variáveis meteorológicas como temperatura e precipitação, o estudo utilizou um sistema de zoneamento agroclimático dos locais favoráveis ao cultivo do trigo.

Em ambos os cenários, houve uma redução dos municípios aptos para o cultivo do trigo. As principais áreas afetadas foram o noroeste do Rio Grande do Sul e o norte do Paraná. Em quase 100% da região sul, registrou-se uma diminuição no período de semeadura. O tempo de plantio reduziu entre 5 e 15 decêndios (1 decêndio corresponde a 10 dias) nos dois cenários devido, principalmente, às maiores temperaturas.
A região sul poderia ver a área apta ao cultivo do trigo cair. No cenário mais pessimista, a redução foi de 15,4 milhões de hectares, 27,5% da área atual. No cenário mais otimista, a redução foi de 8,2 milhões de hectares. As perdas mais severas se verificaram no estado do Paraná, cuja área apta ao cultiva cairia em mais de 40% no cenário pessimista.
Os cenários apontam um futuro de maior dificuldades para o produtor rural. Caso a tendência de aquecimento global continue inalterada no futuro, condições climáticas adversas podem reduzir o tempo de semeadura do trigo na região sul do Brasil.
Mais informações: Impacto de cenários futuros de clima no zoneamento agroclimático do trigo na região Sul do Brasil
Imagem: Unsplash/ Aleksander Suszyński